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Jornal O Popular mostra a farra dos fantasmas na Assembleia Legislativa de Goiás

Escrito por: Badiinho Filho/Fonte: Jornal O Popular 

Fotos: Reprodução/O Popular 

O Jornal O Popular está apresentando desde o último domingo, 27, uma série de reportagens sobre os fantasmas da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás. O acompanhamento está sendo feito por vários jornalistas do O Popular, Fabiana Pulcineli, Karina Ribeiro, Márcia Abreu, Wildes Barbosa, Diomício Gomes e Mantovani Fernandes; pela Rádio CBN Goiânia, Rafaela Carvello; e pela TV Anhanguera: Ariel Dantas, Luciana Amorim e Renata Costa.

A reportagem mostra a farra dos pontos, onde vários servidores após baterem o ponto, são flagrados deixando o prédio da Alego. Vários deputados dizem desconhecer tais ações dos servidores. Leiam as matérias do Jornal O Popular abaixo;  

A farra do ponto na Assembleia

 Por três manhãs, POPULAR flagra dezenas de fantasmas, que desaparecem após registro de presença

27/09/2015 05:01

Por: Fabiana Pulcineli, Karina Ribeiro e Márcia Abreu

Por volta de 7h10, um Palio cinza para em fila dupla na Alameda dos Buritis, em frente à Assembleia Legislativa de Goiás, Setor Oeste. A motorista liga o pisca-alerta. Do banco do passageiro, uma mulher desce de crachá na mão, caminha até a entrada, passa pelo hall, chega aos terminais de ponto eletrônico, registra e sai pelo mesmo caminho. A permanência da mulher dentro do órgão dura 49 segundos.

Ela retorna ao carro, que vai para o Setor Bueno. Em frente a uma lanchonete, na Avenida T-14, o veículo para, a mulher desce e o carro, dirigido pela filha dela, vai embora. Ela sai com pacote de pão e segue para um prédio residencial na T-13, no mesmo bairro.

A cena se repete por três dias e é um dos 21 casos flagrados pelo POPULAR na semana passada. Instituído em outubro do ano passado como medida para combater sucessivos casos de fantasmas, o ponto eletrônico na Assembleia não foi capaz de banir a prática.

Em uma cobertura feita em parceria com a TV Anhanguera e a CBN Goiânia, a reportagem registrou episódios de servidores que deixaram o local (de carro ou moto) depois de protocolar a chegada. Em cinco casos, a reportagem acompanhou os funcionários que se deslocaram. Quatro deles foram abordados. A maioria alegou que resolveria uma questão pessoal e retornaria à Casa.

De acordo com o Portal da Transparência da Assembleia, cerca de 1,5 mil servidores são obrigados a registrar o ponto. Eles representam 46% do total de funcionários da ativa na Casa. É que aqueles que trabalham diretamente com os deputados e ocupam funções gratificadas de gabinete (chamadas de GR Gabinete) não são obrigados a bater ponto. A responsabilidade pela frequência é de cada um dos 41 deputados.

Assim, o universo de quem bate ponto inclui efetivos e comissionados contratados pela administração (servidores da Secretaria da Assembleia, chamados comissionado secretaria). Eles são obrigados a registrar a chegada – com dois horários: 7h ou 13h – e a saída. As portas da Assembleia só se abrem às 6h30 e o sistema de ponto é liberado 15 minutos depois. Mas às 6 horas já é possível encontrar servidores na porta, aguardando para liderar as filas de quatro terminais. A maioria dos flagrantes ocorreu antes das 7 horas. A direção da Casa diz que os casos são isolados.

Alego I

Alego
“Em seguida, é flagrado saindo pela porta dos fundos do órgão”

 

Cobertura conjunta envolve 10 jornalistas

27/09/2015

A cobertura dos casos de servidores que batem ponto e vão embora começou na segunda-feira e precisou se estender diante do volume de infrações flagradas. Como a Assembleia tem duas entradas, duas repórteres do POPULAR ficaram em carros particulares em cada um dos acessos. A da frente, acompanhada de um repórter fotográfico.

Lá dentro, havia uma produtora da TV Anhanguera com uma câmera escondida em frente aos terminais de ponto eletrônico e outras duas repórteres – uma do POPULAR e uma da CBN Goiânia – para passar informações ao grupo por meio do WhatsApp. À entrada da porta principal, um cinegrafista da TV Anhanguera registrou o vaivém dos servidores com uma câmera GoPro.

No último dia, um segurança tirou fotos da equipe que entrou na Casa pela porta dos fundos. Era tarde: o grupo já tinha em mãos os registros de tudo. O POPULAR não revela a identidade dos servidores para não personificar o problema, cuja solução cabe à Assembleia.

“É um número pequeno e pode ser esporádico”

Entrevista / Helio de sousa

O presidente da Assembleia Legislativa, Helio de Sousa (DEM), diz considerar pequeno o número de casos de servidores que batem o ponto e não trabalham, considerando o universo de funcionários que são obrigados a bater o ponto, instituído por ele em outubro do ano passado. Para o presidente, as medidas já adotadas mais a criação de uma avaliação do servidores vai banir de vez a prática na Casa.

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Foto: Wildes Barbosa

 

Existe fiscalização do ponto eletrônico para evitar fraudes?

Temos servidores da Polícia Legislativa que fazem o acompanhamento visual. Quando há suspeitas, encaminham para análise. O controle será completo com uma avaliação que pretendemos instituir. O que irá permitir que saibamos o potencial de cada servidor, que será testado pelo seu superior. Entendo que o ponto e a avaliação juntos vão nos dar muita segurança.

 

Há servidores contratados no setor administrativo e que trabalham nos gabinetes dos deputados?

Pode haver nas comissões. Os deputados comandam comissões e pedem servidores para ficarem à disposição deles. Aí são cedidos. Podem até citar que estão no gabinete, mas realmente estão prestando serviço naquilo que interessa ao deputado nas comissões.

 

Os servidores que batem o ponto têm autorização para sair da Assembleia no horário de serviço?

Se o chefe manda fazer algum trabalho externo, que é possível, tudo bem. Agora, se o servidor não estiver trabalhando, com a avaliação que preparamos, vamos saber. O servidor da Assembleia tem de trabalhar aqui dentro. Em áreas muito específicas, pode haver saídas, como no jornalismo. Há alguns eventos, como Governo Itinerante, Cidadão Participativo e comissões que deslocam. Nesses casos, sim. O restante tem de trabalhar aqui.

 

Já houve identificação de fraude no ponto?

Já houve suspeitas e um caso em que ficou comprovado que um servidor batia o ponto para o outro e ambos foram exonerados. Hoje há uma consciência muito grande.

 

E casos de pessoas que batem o ponto e saem, já houve denúncias?

De servidor que bate ponto e sai, tivemos um e houve exoneração. Ele chegava e saía todos os dias. Era constante.

A reportagem identificou vários casos de servidores que batem o ponto, saem e vão resolver questões particulares, como levar o filho à escola ou a mulher no trabalho, e prometem voltar. Mas não estão cumprindo o horário completo. O que acha?

A Polícia Legislativa faz este acompanhamento. Acho que casos esporádicos às vezes passam despercebidos. Eu não quero conviver com pessoas que não queiram honrar o trabalho. E se você prestar atenção, estou fazendo tudo para evitar que isso aconteça.

Sim, mas qual é sua avaliação sobre esses servidores que saem para resolver algo e alegam que vão voltar? Considera razoável? É permitido?

Não. Isso é inaceitável e a orientação que eu dou é de exoneração. Às vezes pode acontecer um fato isolado. Se for constante, não pode.

Há um caso de um servidor que bateu o ponto, saiu, e foi para uma entidade que, segundo ele, pertence a um deputado. Ele pode trabalhar lá?

Não. Se ele bateu ponto, é administrativo. De rotina, não. Esporadicamente, sim. Ficar lá eu desaconselho. É por isso que eu exigi o ponto eletrônico. Sei que é difícil falar com toda plenitude, mas diria que temos hoje casos isolados. Sinceramente. São muito poucos se você analisar um contingente de 1,5 mil. Você pode ter topado aí com um ou dois ou três ou quatro…

Foram bem mais que isso, presidente.

Mas é um número pequeno e pode ser esporádico. Agora, essa situação é proibida. Quem for flagrado será penalizado. E eu queria que, com o mesmo carinho que você olha nosso Poder aqui, você olhasse os outros também. Ninguém hoje tem a transparência que a Assembleia tem.

 

Servidores da Assembleia se complicam ao serem abordados

Dois deles, ao serem questionados pela reportagem, chegaram a negar que trabalhavam na Casa

Funcionários da Assembleia Legislativa que foram flagrados pela reportagem conjunta do POPULAR, CBN e TV Anhanguera deixando a Casa logo depois de baterem o ponto deram explicações evasivas e contraditórias sobre suas atitudes. 

Um deles, que estava em uma motocicleta, disse primeiramente que não trabalhava na Assembleia, mas, ao ser questionado pelo repórter que ele foi visto batendo ponto, informou que saia apenas para levar a mulher no serviço e voltava para a Casa. Outro, que é lotado no gabinete de um deputado, também negou inicialmente trabalhar na Assembleia, mas depois afirmou que saiu do local durante o horário de trabalho apenas para levar uns papéis. Confira os depoimentos. 

Badiinho Filho
Badiinho Filho
Blogueiro há 15 anos, proprietário da empresa Badiinho Publicidades, e também repórter de rádio e televisão na emissora Cultura FM 101,1, em Catalão-GO.

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