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Mesmo que fosse biomédica, ré não poderia ter feito aplicações no bumbum de cliente, diz conselho

Maria José Brandão morre após fazer aplicação para aumentar o bumbum (Foto: TV Anhanguera Goiás)

O presidente do Conselho Regional de Biomedicina, Roni Castilho, reforçou durante audiência nesta terça-feira (1º) que Raquel Policiena, mesmo se fosse biomédica, não teria autorização para fazer aplicações de substâncias para aumentar o bumbum da ajudante de leilão Maria José Brandão, de 39 anos, em Goiânia. A mulher morreu há quase três anos, após passar por duas sessões com a acusada, que responde pelo homicídio.

“Para exercer a biomedicina estética é preciso fazer especialização, uma pós-graduação de, no mínimo 360 horas. Ainda que fosse biomédica especializada em estética, esse é um procedimento médico, não pode fazer esse procedimento. O biomédico estético só pode fazer certos tipos de aplicação na região do rosto, apenas”, disse o presidente.

Além de Castilho, outras testemunhas prestaram depoimento nesta terça-feira (1º) na audiência de instrução do processo que apura a morte de Maria José Brandão. A audiência começou por volta das 9h e terminou duas horas depois, na 3ª Vara dos Crimes Dolosos Contra a Vida e Tribunal do Júri, no Fórum Criminal Fenelon Teodoro Reis, em Goiânia.

Além de homicídio com dolo eventual, Raquel Policena Rosa, apontada como falsa biomédica, e o ex-namorado, Fábio Justiniano Ribeiro, respondem por exercício ilegal da medicina e venda de produto falsificado.

A primeira pessoa a ser ouvida foi uma ex-secretária de uma clínica onde Raquel supostamente alugava um consultório, no Setor Marista. Cerca de meia hora depois começou o depoimento do cirurgião plástico Danilo Estevão Paranhos. Ele atendeu uma paciente que fez o mesmo procedimento que Maria José tinha feito.

A paciente o procurou depois que viu na mídia sobre o caso do hidrogel. Segundo o médico, ela teve secreções após aplicar o suposto hidrogel no bumbum. O líquido, de acordo com o médico, era oleoso, o que chamou atenção dele, já que o hidrogel não é oleoso.

Após uma hora, a médica Elisângela Ferreira passou a ser ouvida. Ela atendeu Maria José no Centro de Assistência Integral à Saúde (Cais) do Setor Vila Nova, horas depois da aplicação no bumbum. Conforme o relado da testemunha, a vítima chegou reclamando de dor e de falta de ar. Por isso, já suspeitaram de tromboembolismo pulmonar.

“Ela entrou no consultório falando que tinha passado por um procedimento estético, disse ‘aplicou produto nos meus gluteos, eu tô sentindo muita dor e falta de ar’. Eu já pedi a internação, e já foram medicando ela para dor. Depois eu perguntei que tipo de produto era e ela disse que era hidrogel”, disse a mulher durante a audiência.

O advogado de defesa do casal, Ricardo Naves, afirma que não houve a intenção de Raquel em matar a cliente, e questinou o fato da denúncia do Ministério Publico considerar “dolo ou dolo eventual”. O promotor que participou da audiência não se pronunciou. Ele substituiu o titular do caso, Agnaldo Bezerra Tocantins.

“Vejo uma contradição denúncia, que diz que ela não tinha noções mínimas do procedimento. Ora, se ela não tinha noção do procedimento, ela não tinha noção das consequências. É preciso que nós tenhamos cuidado com essa vulgarização de dolo eventual, há uma sutileza para a culpa consciente e dolo eventual”, disse.

O juiz Jesseir Alcântara disse que agora, vai aguardar o MP decidir sobre o depoimento de 10 testemunhas que estão pendentes.

“Tínhamos 16 testemunhas, ouvimos 4, distribuímos 2 cartas precatórias para fora do estado. Temos 10 pendências de testemunhas. O MP tem três dias para dar o parecer. O casal é ouvido só ao final. Depois do interrogatório, o MP e a defesa apresentam as alegações finais e eu decido se eles vão a júri popular. Nós estamos no início da colheita de provas, é um processo tem que ser visto como um todo”, explicou.

Morte 

Maria José morreu em 25 de outubro de 2014, menos de um dia depois de fazer a segunda aplicação no bumbum de um produto, ainda não identificado, em uma clínica estética da capital. Após se sentir mal, ela foi internada no Hospital Jardim América, mas não resistiu e morreu.

Em áudios conseguidos, na época, com exclusividade pela TV Anhanguera, Maria José relatou a Raquel que sentia dor no peito e falta de ar logo após fazer a segunda sessão. A ajudante de leilão estava ofegante e fraca, mas a responsável pela aplicação descartou riscos e orientou a vítima a comer “uma coisinha salgada”.

Momentos depois, Maria José encaminhou uma mensagem escrita dizendo: “Tenho medo de AVC [Acidente Vascular Cerebral]. Minha mãe morreu cedo disso”.

Nesse momento, Raquel deu uma risada e descartou a possibilidade de paciente sofrer do problema. “AVC não dá falta de ar não. AVC é no cérebro, não dá falta de ar. Pode ficar tranquila. Você fuma? Alguma coisa assim? Você costuma praticar atividade física? Pode ficar tranquila que tem a ver com a tensão, não tem nada”, disse.

Na época, Raquel Policena foi presa, mas liberada 10 dias depois. Além dela, o ex-namorado, que segundo a denúncia, a auxiliou nas aplicações para aumento de bumbum, também foi indiciado no caso.

Para a delegada Myrian Vidal, responsável pelas investigações da Polícia Civil, o homicídio foi considerado doloso, pois o casal assumiu o risco da morte de Maria José ao não aconselhar que ela procurasse um médico rapidamente ao começar a se sentir mal.

Apesar do indiciamento do casal cerca de um mês depois do crime, o processo ficou mais de dois anos tramitando no Ministério Público de Goiás antes que fosse feita a denúncia. Isso porque houve uma discórdia dos promotores sobre a tipificação do crime, se tratava-se de homicídio culposo, quando não há a intenção de matar, ou doloso.

Por fim, a ação foi analisada pelo promotor Agnaldo Bezerra Lino Tocantins, da promotoria do Júri, que ofereceu a denúncia por homicídio simples, com dolo eventual.

Causas da morte 

Um laudo do Instituto Médico Legal (IML), que foi divulgado em junho de 2015, comprovou que Maria José morreu em decorrência do produto que foi aplicado no seu bumbum, o que causou uma embolia pulmonar seguida de insuficiência respiratória aguda. No entanto, os exames não conseguiram comprovar se o material usado se tratava de hidrogel.

Segundo o IML, essa embolia ocorreu após a segunda aplicação do produto, que seguiu pela corrente sanguínea e chegou aos pulmões. “Algo aconteceu que essa substância saiu da região aplicada e foi parar em outros órgãos nobres, como o pulmão, que recebeu esse corpo estranho e fez esse processo de embolia”, afirmou, na época, a médica legista Ívia Carla Nunes.

O gerente do IML, Marcellus Arantes, esclareceu, na ocasião, que, apesar de não ser possível identificar qual produto foi aplicado em Maria José, o resultado não seria diferente. “Qualquer um dos produtos que caísse na corrente sanguínea da forma que caiu e obstruísse os vasos sanguíneos pulmonares levaria a óbito da mesma forma”, explicou.

“Maria José foi levada a hospital com dificuldades para respirar e não resistiu” (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

Escrito por: Redação/Fonte: Portal G1 Goiás  – Por Murillo Velasco e Paula Resende 

Fotos: Reprodução

 
Badiinho Filho
Badiinho Filho
Blogueiro há 15 anos, proprietário da empresa Badiinho Publicidades, e também repórter de rádio e televisão na emissora Cultura FM 101,1, em Catalão-GO.

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