Uma equipe de reportagem do site Metrópoles, de Brasília – Distrito Federal, um dos maiores portais de notícias e entretenimento do Brasil, estiveram na cidade de Nova Aurora de Goiás no último dia 11 de outubro, onde registraram e transformaram em matéria, publicada neste domingo (17), destacando a não existência de ocorrências de violência, como homicídios, tentativas de homicídios, furtos e roubos na cidade.
Dentre os destaques da reportagem, está o Bar do Berlim, onde trabalha há 36 anos, o Senhor João Batista Borges, 54 anos de idade, que relatou a equipe do Metrópoles que “a única violência que vi aqui nesses 37 anos foi uma facada, e o esfaqueado está vivo até hoje”, garantiu o Senhor João, funcionário do Senhor Berlim desde os 16 anos de idade, tirando seu sustento para criar sua família e garantir os estudos de nível superior de suas duas filhas.
Leia a matéria do site Metrópoles sobre Nova Aurora abaixo:
Conheça a cidade onde o medo da violência se resume a roubos de panelas ou bujões de gás
A pequena Nova Aurora, no sudoeste goiano, se tornou um oásis de tranquilidade quando o assunto é segurança pública. O município de apenas 2,3 mil habitantes não registra homicídios há 10 anos.
O Metrópoles foi até a cidade na última segunda-feira (11/10) e viu de perto o clima de paz. Logo na entrada da área urbana do município, que fica a 260 km de Goiânia, chama a atenção a procissão de mulheres que fazem caminhada sozinhas, na beira da rodovia GO-210, no começo da manhã.
“A gente ainda mora em um paraíso muito bom”, define a aposentada Terezinha de Fátima, de 66 anos. Os assassinatos de que ela se lembra ocorreram quando era jovem e vivia na zona rural de Nova Aurora. As motivações segundo ela eram as “relias”, que é quando alguém “toma nojo” da cara do outro.
As ocorrências mais comuns relatadas por moradores atualmente? Jovens que empinam motos em momentos de lazer e furtos de panelas ou bujões de gás em fazendas.
Poucas famílias
O aposentado Altamir Ribeiro, de 81 anos, nasceu em Nova Aurora, e lembra de memória os poucos assassinatos que ocorreram na cidade. O último foi no dia 21 de fevereiro de 2011. Os outros casos
“Aqui é todo mundo das mesmas famílias. Para falar a verdade, a gente aqui sai e deixa o carro aberto”, conta o aposentado.
Em Nova Aurora, “todo mundo se conhece”, repetiram moradores ouvidos pela reportagem. Ao chegar no cemitério municipal, é possível ver que muitos dos mortos têm os mesmos sobrenomes. São as principais famílias que formaram o município – os Pimenta, os Borba e os Carneiro.
“Só uma facada”
Mesmo no boteco, local onde os clientes poderiam se tornar violentos após o consumo de bebida alcoólica, o clima é de predominante paz há décadas.
João Batista Borges, de 54 anos, atende no Bar do Berlim há mais de 30 anos e garante a calmaria do local. O estabelecimento é tradicional na cidade e recebe desde autoridades locais até trabalhadores sem renome.
“A única violência que vi aqui nesses 37 anos foi uma facada, e o esfaqueado está vivo até hoje”, garante João.
Câmeras e tradição
Nova Aurora se tornou município em 1953. Antes era distrito de Catalão, hoje cidade vizinha, de 111 mil habitantes. Muitas ruas de Nova Aurora ainda são pavimentadas com bloquetes, e é fácil encontrar aqui e ali casas de adobe, cobertas de telhas de cerâmica antigas.
Também é fácil achar idosos sentados nas portas, em alpendres e na beira da janela dessas casas. Parte da população jovem migrou para outras cidades para conseguir empregos.
A tranquilidade na cidade se mantém mesmo com pouca presença da Polícia Militar e da Polícia Civil. A reportagem não viu uma viatura no período em que esteve no município em 11/10. Na delegacia da cidade há apenas um servidor que registra ocorrências, não há um delegado de prontidão.
Em compensação, câmeras de monitoramento estão espalhadas para todos os lados, uma iniciativa do Ministério Público de Goiás. Todas as saídas para as fazendas são filmadas, além de praças e cruzamentos.
Repasses bem-vindos
Chama atenção a extrema limpeza das ruas de Nova Aurora, a organização das praças, a grande quantidade de calçadas e meios-fios em ótimas condições.
A pequena quantidade de habitantes de Nova Aurora acaba sendo um fator positivo na administração pública. Para se ter uma ideia, a cidade recebe R$ 642,6 mil de repasse financeiro da União, do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).
É a mesma quantidade de verba que chega para a cidade vizinha Goiandira, que tem mais que o dobro da população de Nova Aurora.
Luz para todos
A auxiliar administrativo Gabrielly Emídio Oliveira, de 23 anos, garante que dá para andar pelas ruas no período noturno sem medo. A prefeitura até divulga um número nas redes sociais chamado “Disk Lâmpada”, que é para garantir a troca da iluminação pública, quando a lâmpada de algum poste é danificada.
Último assassinato
Apesar da tranquilidade e da vida pacata, o último assassinato que ocorreu em Nova Aurora foi particularmente brutal e está bem vivo na memória da população. Carlos André do Nascimento, então com 33 anos, foi atropelado e em seguida degolado, durante uma manhã, em via pública. O crime aconteceu em fevereiro de 2011.
Carlão, como era conhecido, tinha aparente doença psiquiátrica e era conhecido por praticar furtos na cidade e atuar como pedinte. Ele desenvolveu uma fixação por uma jovem moradora e teria começado a persegui-la. Na cela da cadeia, escrevia repetidas vezes o nome do amor platônico, enviava cartas românticas e, quando estava bêbado, ia até a casa da mulher.
O pai dessa jovem decidiu matar o homem que a perseguia. Carlos andava na rua com uma sacola de carne, um coco e um cachorro de rua, quando foi atropelado de forma proposital. Quando estava caído no chão, o motorista desceu e o degolou. O assassino, entretanto, foi absolvido por unanimidade no júri popular.
“Meu filho tinha muita passagem pela polícia. O advogado do homem que matou foi muito cruel. Ele falou que a morte do meu filho ‘foi uma limpeza, morreu tarde’, relata a mãe de Carlão, a aposentada Lázara Maria Fidelis do Nascimento, de 63 anos. Ela decidiu não entrar com recurso no processo, pois isso não traria seu filho de volta, e agora deposita sua esperança na justiça divina.
O assassinato de Carlos não consta no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS). O portal pediu um esclarecimento para a Secretaria Municipal de Saúde, responsável por alimentar esse banco de dados, e não teve retorno até a publicação desta reportagem.
Assassinato histórico
Por coincidência do destino, a cidade com tão poucos homicídios é conhecida na história de Goiás por um assassinato político. Foi em Nova Aurora que morreu assassinado o deputado do PSD major Getulino Artiaga, em 8 de setembro de 1950.
“A chacina de Nova Aurora”, estampou a manchete do jornal Folha de Goiaz na época. Getulino foi morto por udenistas com 18 tiros, no mesmo local onde hoje funciona o Bar do Berlim, que na época tinha outro nome. Pouco antes havia sido morto o líder do PSD local, Tatico Rosa.
A confusão teria começado depois de uma briga entre integrantes dos dois partidos e duas pessoas que conduziam um caminhão com faixas do PSD foram mortas, segundo depoimentos de filhos de Getulino para a TV da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). Houve tiroteio na cidade e várias pessoas foram feridas. Ninguém foi punido.
Deputado Getulino, de braço erguido, ao lado de Pedro Ludovico Teixeira, fundador de Goiânia. Foto: TV Alego/Reprodução