Apesar do histórico marcado por investigação sobre suposto desvio de R$ 120 milhões de dinheiro proveniente de doação de fiéis e até pedido de prisão por parte da Polícia Federal, o padre Robson de Oliveira Pereira, de 47 anos, recebeu amplo apoio nas manifestações em posts que quebraram o silêncio de 16 meses nas redes sociais.
Com críticas veladas às investigações do Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) e da Polícia Federal (PF), o padre reapareceu nas redes sociais, no domingo (19/12). Ele publicou mensagem de “benção” cinco dias depois de a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manter decisão do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) que mandou arquivar as investigações. Cabe recurso.
Redes sociais
Foram contabilizados 1.775 comentários no primeiro post de “retorno” ao Instagram do padre até às 15h desta terça-feira (21/12). No total, 1.497 (84%) são favoráveis ou de defesa a ele. Outros 154 (8,6%) são negativos ou irônicos, além de 25 (1,5%) considerados neutros ou indefinidos. Os 99 restantes são personagens repetidos que aplaudem ou criticam o padre dentro dos próprios comentários.
Na página do padre Robson no Facebook, o post dele recebeu 382 comentários. Assim como no Instagram, a maioria também é favorável ao religioso ou manifesta alguma frase de apoio ou de força ao pároco, que chegou a dizer em áudio ser “chefe da quadrilha”.
Além disso, no Facebook, a publicação que quebrou o silêncio do padre recebeu 1,7 mil curtidas; 132 corações, equivalentes a “amei”; 8 reações que representam “nervoso”, 2 de risadas, 2 de força e 3 de “uau”.
As publicações anteriores do padre haviam sido feitas nos dias 22 e 23 de agosto de 2020. Em uma delas, ele afirmava se afastar da reitoria do Santuário de Trindade e da Afipe (Associação Filhos do Pai Eterno), duas entidades diretamente ligadas à suspeita de desvio de dinheiro da qual Robson de Oliveira é investigado.
Reservado
Para evitar ainda mais desgaste de sua imagem, padre Robson se manteve reservado, em paradeiro não divulgado, assim que o MPGO deflagrou a Operação Vendilhões, em agosto de 2020. Logo em seguida, ele foi afastado, pela Igreja, do Santuário Basílica de Trindade, do qual era representante, e proibido de realizar missas. Também foi proibido de dar entrevistas e fazer postagens nas redes sociais até agosto deste ano.
O MPGO ainda tentará recorrer da mais recente decisão do STJ, mas a defesa já pediu à Corte superior para certificar o trânsito em julgado, que é o encerramento das possibilidades de recurso, com arquivamento definitivo das investigações.
Padre Robson é uma celebridade e chegou a ter o quinto álbum musical mais vendido do Brasil em 2011. Ele também teve uma carreira de apresentador, o que o permitiu criar sua própria rede de televisão, a TV Pai Eterno.
Afipe
Padre Robson é investigado por suspeita de desviar recursos doados por fiéis para Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), que ele presidiu até ser afastado do cargo após o início da operação do MPGO. O dinheiro deveria ser destinado à construção do novo Santuário Basílica de Trindade, na cidade conhecida como a capital da fé em Goiás, na região metropolitana de Goiânia.
O local é conhecido nacionalmente por atrair milhares de pessoas por ano, em especial durante a Festa do Divino Pai Eterno, comemorada entre o final de junho e início de julho. Apesar de ser tradição do século 19, padre Robson foi, durante anos, figura central da festividade e responsável por impulsioná-la. Ele também foi marcante para criar uma estrutura potente para a Igreja Católica no município.
A Afipe, na época em que foi presidida pelo padre, era responsável por administrar cerca de R$ 2 bilhões recebidos para a construção do novo Santuário Basílica de Trindade, segundo o MPGO. O Ministério Público estadual investigou o religioso por falsidade ideológica, corrupção de policiais, lavagem de dinheiro, apropriação indébita e crimes tributários, entre outros.
Além disso, o padre Robson e mais cinco pessoas também foram alvos de pedido de prisão solicitado pela Polícia Federal em novembro. Segundo a defesa, não houve decisão sobre essa solicitação.
O processo judicial que teria tido uma decisão comprada pelo padre Robson de Oliveira Pereira, a principal razão do pedido de prisão feito pela PF, segue tramitando no Judiciário goiano, em duas instâncias.
Propina
O religioso é investigado por supostamente ter pagado R$ 750 mil como propina para três magistrados do TJGO para que uma decisão proferida em novembro de 2019 fosse favorável à entidade presidida por ele na época, a Afipe.
O TJGO disse que não tem conhecimento sobre o pedido da Polícia Federal e, por essa razão, não se pronunciará sobre o assunto. Além disso, não divulgou detalhes da sindicância que instaurou, no início do ano, para investigar possível propina a magistrados.
A Associação dos Magistrados do Estado de Goiás (Asmego) informou que a sindicância instaurada pelo TJGO, a pedido dos próprios magistrados, já foi concluída. Segundo a entidade, a investigação não constatou nenhuma irregularidade.
A equipe de reportagem não conseguiu retorno da defesa do padre.
Publicado por Badiinho Moisés com informações do Metrópoles