Escrito Por: Cristina Mesquita (Gazeta 24 horas)
Fotos: Reprodução da Internet
Em decisão tomada na 9ª Assembleia Diocesana, realizada em Ipameri, a Igreja decidiu por não comercializar bebida alcoólica em festas religiosas. A medida causou polêmica.
Festeiros na comunidade Tambiocó, Taís Borges e Ênio Eduardo, estiveram na tarde de sexta – feira (4) na Paróquia Mãe de Deus, em Catalão, para marcar data de uma reunião, antes do início da festa, marcada para o mês de julho. O terço acontecerá entre 4 e 12 de julho, mas não haverá a parte festiva pela primeira vez em 50 anos de festa. “É tradição a festa. Agora, deve participar só o pessoal da comunidade e familiares”, disse a festeira. “O principal vai ter, que é a reza do terço”, diz o marido Ênio.
“A festa é para rezar.” Disse Frei Edgar
O pároco da Paróquia Mãe de Deus, Frei Edgar, foi enfático: “A festa é para rezar”, disse ele, explicando que a decisão não foi dele, mas sim da Igreja, se referindo à Assembleia que tomou a decisão. Segundo ele, a decisão foi tomada gradativamente, disse se referindo às Campanhas da Fraternidade realizadas desde 2001 que enfatizava a conscientização contra as drogas. Frei Edgar disse ainda que a decisão foi tomada em assembleia. “A decisão é a de número 70, que diz que: fica proibida a venda de bebidas alcoólicas em festas da Diocese de Ipameri”.
Ele explicou que a reunião que tomou a decisão, contou com a participação de representantes de pastorais de toda a diocese. “Fizemos reuniões com festeiros, ninguém foi tomado de surpresa”, disse, completando que colocaria a decisão em prática. “Uma hora tinha que acontecer”. Edgar detalhou o que ele chamou de razões para a decisão: coerência de fé e vida. “O que a gente prega, a gente coloca em prática”. Ele disse ainda que a festa é da Igreja. “O que é Igreja? É um espaço de encontro com Deus”. Ainda de acordo com o pároco, a prioridade da Igreja não é com o lucro financeiro. “E sim o lucro da fé, do amor”.
Frei Edgar disse ainda que a decisão deve influenciar na queda da violência. “Aquilo que envolve os malefícios da bebida – brigas, acidentes, mortes. Então, estamos olhando para tudo isso. É coerente fazer essa proibição”, taxou.
“Não tenho nada contra quem bebe, mas o que quero é preservar a decisão tomada”. Com a decisão, de acordo com ele, ficam fora das tradicionais festas de roça, por exemplo, os bingos, os shows e toda a parte festiva. “Vai ter levantamento de bandeira, reza, terço. Quem quer ir lá para rezar, será bem vindo”.
Festa do Rosário
“Dom Guilherme bispo da Diocese de Ipameri”
A medida, de não comercializar bebidas alcóolicas em festas da Igreja, é para a toda a diocese de Ipameri, o que inclui a paróquia São Francisco, que realiza, junto com a Irmandade Nossa Senhora do Rosário, a tradicional Festa do Rosário, que acontece no mês de outubro em Catalão. A Paróquia realiza também outra tradicional festa: a de São Francisco. Dom Guilherme, bispo da Diocese, explicou, por telefone, que a decisão foi tomada por maioria, isto é, mais de 50% dos participante da Assembleia que se reuniu em Ipameri para discutir todas as questões relacionadas à Igreja: de Pastorais, Movimentos, Assuntos Econômicos, além dos Sacramentos (batismo, confissão, primeira comunhão, crisma, casamento) e das festas, de acordo com o Bispo. Ele disse ainda que quatro ou cinco paróquias já não comercializam bebidas alcoólicas durante festas mesmo antes da Assembleia Diocesana. “As festas tanto das roças quanto nas cidades, continuam em tudo como antes, sendo que a parte religiosa é o centro, mas isso em nada diminui a importância da parte social, porque uma das normas diz que a primeira finalidade é louvar a Deus, mas a segunda, ligada à primeira, é a confraternização entre os irmãos e irmãs. Portanto, a festa social segue em tudo como era antes. Também não é somente para os membros da Comunidade , mas aberta ao povo em geral. Apenas não se vende bebida alcoólica, segundo a norma da Assembleia”, explicou.
Dom Guilherme não entrou em detalhe sobre a Festa do Rosário, mas disse que “o documento é orientativo e normativo. Na medida do possível é para ser colocado em prática, mas é um processo crescente, não uma “camisa de força”, disse, se referindo à decisão própria de cada paróquia. “O importante é cada ano dar mais um passo, e isso, não somente em relação às festas, mas a todas as diretrizes e normas aprovadas na Assembleia, como na Catequese, casamentos. As festas são uma pequena parte da Assembleia toda. O importante é toda a vida, pastoral e evangelização”.
Dom Guilherme, por mais de uma vez, ressaltou que o do documento é orientativo e normativo: “Peço que seja acolhido e, na medida do possível, posto em Prática”, disse ele, ainda por telefone, afirmando que a decisão não é para ser vista como “camisa de força, mas nos possibilitam, na comunhão e participação, o testemunho da unidade eclesial na dinâmica e diversidade de nossa realidade”.
Ele contou que a 9ª Assembleia contou com a participação de cerca de 150 pessoas, entre elas, todos os padres, líderes de comunidades e pastorais, um leigo que não participa de nenhum trabalho na Igreja, de 25 a 30 freiras (irmãs religiosas), além de dois jovens e duas crianças por paróquia, sendo que um de cada jovem participa ativamente da Igreja e outro não. “A decisão foi tomada em conjunto. Antes da Assembleia foram distribuídos questionários para cada paróquia. E foi em cima das respostas desses questionamentos, que foram encaminhados os trabalhos para a Assembleia que analisou tudo e todos puderam, por voto livre, manifestar sua opinião, disse Dom Guilherme, ressaltando que as decisões tomadas foram acatadas por 75% dos participantes. “Algumas de menor importância, tiveram aprovação de 55%, portanto essas decisões não são do Bispo ou do padre, mas da Assembleia”.
Ao final, Dom Guilherme explicou ainda que depois da publicação do documento aprovado em Assembleia, o documento é encaminhado a cada paróquia para que o Conselho de Pastoral, que é presidido pelo Pároco (na Paróquia Mãe de Deus, frei Edgar) dê sua decisão final. “O Centro da Assembleia não foram as festas religiosas e sim a evangelização e a vida pastoral, onde as festas religiosas fazem parte importante”.