O primeiro dia de prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) teve uma questão que usou um trecho da canção Admirável Gado Novo, do compositor Zé Ramalho, além de perguntas sobre meio ambiente e a cultura indígena, além de uma charge do Henfil. Os candidatos têm até as 19h deste domingo (21) para responder a 90 questões de linguagens e ciências humanas, além de produzir uma redação com base no tema “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”.
De acordo com o professor de geografia do Colégio e Curso AZ, Rodrigo Magalhães, a música estava presente na prova de ciências humanas. “Também caíram alguns temas já esperados, como meio ambiente, uso da água, capitalismo e divisão internacional do trabalho, indústria e modelos de produção, espaço urbano, espaço agrário, duas questões de geografia física, uma que envolvia agentes externos do relevo e uma que envolvia cartografia”, comenta.
“Gostei muito da questão sobre migrações, que falava sobre os refugiados e a perda da identidade deles, a dificuldade de inserção que eles possuem”, diz o professor. “A edição deste ano trouxe muitas questões sobre saberes tradicionais, sobre os escravos e índios, uma delas, muito interessante, falando sobre como o conhecimento indígena ajudou na relação da produção agrícola, conhecimento dos indígenas sobre as sementes e a germinação delas no cerrado.”
Segundo o professor, os participantes também responderam a questões sobre atividade mineradora e o impacto social que essa atividade gera em minorias na Amazônia. “No geral, a prova abordou temas já esperados e, em geografia, sem questões polêmicas em relação à política atual ou sobre a ditadura e nenhuma referência à reforma agrária”, destaca.
A primeira impressão é de que a prova deste ano foi considerada mediana. “De maneira geral, a prova teve um nível médio, com algumas questões fáceis, poucas questões de nível difícil.”
Para Roberta Luz, professora de história do Colégio e Curso AZ, “a prova não foi difícil, mas cansativa e algumas questões com vocabulário pouco comum, com palavras difíceis”. “A prova não surpreendeu, só teve uma questão sobre as revoluções inglesas, um tema que não costuma cair, mas era possível responder a partir da interpretação de texto, sem conhecimento específico sobre o assunto.”
As charges estiveram presentes na edição deste ano. Na prova de linguagens, estudantes tiveram de interpretar uma charge do cartunista Henfil. Em inglês, como conta o professor Wagner Borges Jr., do Seb Lafaiete, havia um cartoon da revista The New Yorker com foco em vocabulário.
Segundo Daniel Perry, diretor do Curso Anglo, a prova manteve o padrão em termos de habilidades cobradas, dialogou com temas da atualidade e não apresentou polêmicas.
“Houve uma boa diversidade de temas, mas a gente pode perceber que a temática negra está presente em diversos momentos da prova”, diz. Ele cita questões envolvendo temas como escravidão, população carcerária e o goleiro da Seleção Brasileira da Copa de 1950, Barbosa, que era negro e foi considerado por parte da população o culpado pela derrota para o Uruguai no Maracanã.
Perry avalia que o teste foi equilibrado em termos de dificuldade, com divisão entre questões fáceis, médias e difíceis. Segundo o diretor, tratou-se de uma prova “trabalhosa” especialmente por conta das questões de linguagens, em que havia textos longos.
Redação
O professor Pedro Vasconcelos, do Anglo Leonardo da Vinci, disse que “a prova de redação do Enem exigiu que os candidatos dissertassem sobre um tema de muita importância, mas pouco conhecido da maioria dos brasileiros: a ausência de registro civil. Seja no âmbito federal, estadual ou municipal, a certidão de nascimento (e consequentemente o Registro Geral) é condição essencial para o acesso a benefícios sociais como Bolsa-Família, Cartão SUS e até mesmo ao serviço funerário municipal”.
“Seja pela má distribuição da rede de cartórios, seja pela precariedade socioeconômica, uma parcela muito grande dos brasileiros não tem documentação, tendo vedados o acesso à cidadania e à tutela estatal. A banca provocou uma reflexão sobre um assunto certamente distante da maioria dos candidatos, mas cuja atualidade se fez presente em momentos como o cadastro do auxílio emergencial ou na vacinação”, afirmou.
Publicado por: Badiinho Moisés/Informações do Portal R7