Quase três anos após a morte da ajudante de leilão Maria José Brandão, de 39 anos, depois de fazer aplicações para aumentar o bumbum, deve acontecer hoje, terça-feira (1º) a primeira audiência de instrução do processo. Apontada como falsa biomédica, Raquel Policena Rosa e o ex-namorado, Fábio Justiniano Ribeiro, respondem por homicídio com dolo eventual, exercício ilegal da medicina e venda de produto falsificado.
A sessão estava prevista para começar às 8h30, na 3ª Vara dos Crimes Dolosos Contra a Vida e Tribunal do Júri, no Fórum Criminal Fenelon Teodoro Reis, em Goiânia. Presidente da sessão, o juiz Jesseir Coelho de Alcântara explicou que 14 testemunhas foram arroladas. Depois delas, os réus também podem ser interrogados.
Os acusados respondem ao processo em liberdade. Responsável pela defesa do casal, o advogado Ricardo Naves afirma que os clientes não tinham a intenção de matar Maria José.
“Há ausência de demonstração de que haja nexo de causalidade entre a conduta dela [Raquel] e o resultado morte. Depois, mesmo que houvesse alguma comprovação neste sentido, é muito evidente que a conduta dela não guardava nenhuma feição de intenção, de dolo, nem de dolo eventual”, disse ao G1.
Naves também defende que a cliente não ostentava a condição de médica.”Ela tinha o certificado, substancialmente válido ou não, que dava a ela a confiança de que estava credenciada e apta a realizar este tipo de intervenção”, afirmou.
Em relação a Fábio, o advogado destacou que ele “não participou de nada”. “Ele a acompanhava, era namorado, mas ele não prestou auxílio”, concluiu.
Morte
Maria José morreu em 25 de outubro de 2014, menos de um dia depois de fazer a segunda aplicação no bumbum de um produto, ainda não identificado, em uma clínica estética da capital. Após se sentir mal, ela foi internada no Hospital Jardim América, mas não resistiu e morreu.
Em áudios conseguidos, na época, com exclusividade pela TV Anhanguera, Maria José relatou a Raquel que sentia dor no peito e falta de ar logo após fazer a segunda sessão. A ajudante de leilão estava ofegante e fraca, mas a responsável pela aplicação descartou riscos e orientou a vítima a comer “uma coisinha salgada”.
Momentos depois, Maria José encaminhou uma mensagem escrita dizendo: “Tenho medo de AVC [Acidente Vascular Cerebral]. Minha mãe morreu cedo disso”.
Nesse momento, Raquel deu uma risada e descartou a possibilidade de paciente sofrer do problema. “AVC não dá falta de ar não. AVC é no cérebro, não dá falta de ar. Pode ficar tranquila. Você fuma? Alguma coisa assim? Você costuma praticar atividade física? Pode ficar tranquila que tem a ver com a tensão, não tem nada”, disse.
Na época, Raquel Policena foi presa, mas liberada 10 dias depois. Além dela, o ex-namorado, que segundo a denúncia, a auxiliou nas aplicações para aumento de bumbum, também foi indiciado no caso.
Para a delegada Myrian Vidal, responsável pelas investigações da Polícia Civil, o homicídio foi considerado doloso, pois o casal assumiu o risco da morte de Maria José ao não aconselhar que ela procurasse um médico rapidamente ao começar a se sentir mal.
Apesar do indiciamento do casal cerca de um mês depois do crime, o caso ficou mais de dois anos tramitando no Ministério Público de Goiás antes que fosse feita a denúncia. Isso porque houve uma discórdia dos promotores sobre a tipificação do crime, se tratava-se de homicídio culposo, quando não há a intenção de matar, ou doloso.
Por fim, a ação foi analisada pelo promotor Agnaldo Bezerra Lino Tocantins, da promotoria do Júri, que ofereceu a denúncia por homicídio simples, com dolo eventual.
Causas da morte
Um laudo do Instituto Médico Legal (IML), que foi divulgado em junho de 2015, comprovou que Maria José morreu em decorrência do produto que foi aplicado no seu bumbum, o que causou uma embolia pulmonar seguida de insuficiência respiratória aguda. No entanto, os exames não conseguiram comprovar se o material usado se tratava de hidrogel.
Segundo o IML, essa embolia ocorreu após a segunda aplicação do produto, que seguiu pela corrente sanguínea e chegou aos pulmões. “Algo aconteceu que essa substância saiu da região aplicada e foi parar em outros órgãos nobres, como o pulmão, que recebeu esse corpo estranho e fez esse processo de embolia”, afirmou, na época, a médica legista Ívia Carla Nunes.
O gerente do IML, Marcellus Arantes, esclareceu, na ocasião, que, apesar de não ser possível identificar qual produto foi aplicado em Maria José, o resultado não seria diferente. “Qualquer um dos produtos que caísse na corrente sanguínea da forma que caiu e obstruísse os vasos sanguíneos pulmonares levaria a óbito da mesma forma”, explicou.
Escrito por: Redação/Fonte: Portal G1 Goiás
Fotos: Reprodução