A Academia Catalana de Letras acredita que, todo mundo tem uma história pra contar quando olha para o Morrinho de São João. Quase sempre, alegres recordações. Mas, às vezes, tristes lembranças. Ninguém contempla o Morrinho de São João impunemente. Muita energia deve estar acumulada nas cercanias daquela pequena capela. Quantas juras de amor foram feitas e ali declamadas, de geração em geração, levadas pelo vento brando para o infinito? Quantas vontades contrariadas, amores ali findados, em que os pares desceram tristemente separados os caminhos da colina? Poetas e escritores, quando saíam de Catalão, despediam-se da cidade, melancólicos, do alto do São João. Quando voltavam, subiam eufóricos, para sentir o gozo do retorno. O morro, que já recebeu tantos nomes diferentes, talvez seja também uma colina de sentimentos. Ou então, não é o morro e sim a capela a verdadeira ermida sentimental.
Testemunhos antigos registraram que, ficaram rabiscados, durante anos, no reboco do fundo da igrejinha, dentro de um coração bem desenhado, um verso mais ou menos assim:
A malva tem seis folhas
O alecrim dezesseis
Ou me amas para sempre
Ou me deixas de uma vez
Este verso, do tudo ou nada, tinha assinatura: Ritinha. Moça catalana que se apaixonara perdidamente por um dentista prático, desses que andavam de lugar em lugar carregando seu gabinete, prestando atendimento aos moradores do sertão. Acontece que o rapaz era casado e tinha uma filha em Minas Gerais. Mesmo assim, vinha encontrando -se com Ritinha no alto do Morrinho de São João, durante sua estadia pelas redondezas de Catalão. Ela, moça inocente, de boa família, foi se apaixonando perdidamente. Até que um dia ele decidiu ir embora e acabar com aquele romance. Porém, em uma nervosa despedida, no alto do morro, Ritinha atirou em suas costas prostrando-o morto no chão. A catalana ficou louca, ou já estava louca. Loucamente apaixonada. Foi presa pelas autoridades e internada em um asilo. Quando ficou livre, voltou a frequentar o Morrinho de noite como antigamente. Virou lenda. Virou a Louca do Morro da Saudade.
Escrito por: Luís Estevam – Presidente da Academia Catalana de Letras (ACL)