A quem pertence a Cruz do Anhanguera? Para o historiador e doutor em economia Luís Estavam, o monumento é da cidade de Catalão. Segundo essa tese, o monumento marca a passagem do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o filho do Anhanguera, pela região sul do estado, e deveria estar em Catalão. “Foi em 1722 na região da antiga Fazenda dos Casados que foi colocada a Cruz do Anhanguera, marcando sua passagem pela região onde hoje é o município de Catalão”, conta o doutor em economia e integrante da Academia Catalana de Letras.
A retirada deste símbolo das bandeiras de seu local de origem gerou muita revolta dos moradores. Isso desde 1914. E hoje historiadores e a Academia Catalana de Letras, bem como a população, tem cobrado esta “dívida histórica” da Cidade de Goiás para com Catalão. A cidade completa 158 anos no dia 20 de agosto.
“É uma mágoa, um amargor que volta a tona neste mês de aniversário de Catalão e porque em 2022 completa 300 anos da passagem do Anhanguera por nossa região”, diz Luiz Estevam, para quem o povo catalano merece um “pedido de perdão” por parte dos vilaboenses. Segundo Luiz Estevam, o local de onde foi retirado o monumento está protegido pelo cerrado, coberto de vegetação. Na Prefeitura de Goiás o assunto deixou todos espantados.
“As terras revolvidas e as pedras onde estava a Cruz do Anhanguera continuam praticamente do mesmo jeito e queremos revitalizar o local, colocando uma réplica para incentivar o ecoturismo na região”, conta Luiz Estevam. A ideia é que tudo esteja pronto para a comemoração dos 300 anos da passagem dos bandeirantes pela região em 2022 e eles esperam que a Cidade de Goiás ajude nesse processo de alguma forma. “Afinal, perdemos muito no quesito turismo desde que a Cruz foi arrancada de nós”, reclama Luiz Estevam.
Para o economista e escritor, a Cruz do Anhanguera tem uma grande importância histórica para Catalão e a “dívida histórica” não se trata de questão monetária, de pagamento em dinheiro. “Queremos o reconhecimento do local originário da Cruz, que foi colocada na região onde hoje é o município de Catalão e que ocorreu bem antes da Cidade de Goiás”, reclama. A Cidade de Goiás completou 292 anos em julho de 2021.
Onde está a Cruz?
Desde a grande enchente que atingiu a Cidade de Goiás, em 2001, a Cruz do Anhanguera foi levada para o Museu das Bandeiras, onde faz parte da exposição permanente. Na época da enchente, o monumento onde foi instalada a Cruz do Anhanguera foi levado pelas águas do Rio Vermelho. Após ser encontrado e restaurado foi colocado no Museu das Bandeiras. “Hoje no local, que fica às margens do Rio Vermelho, está uma réplica do monumento histórico”, explica a secretária de Cultura da Cidade de Goiás, Raíssa Coutinho.
Segundo a secretária de Cultura, a Cidade de Goiás está aberta a participar dos 300 anos da passagem dos bandeirantes pela região Sul do estado, que será comemorado em 2021 em Catalão.
A História
Em Catalão, a Cruz do Anhanguera é ligada à passagem do Anhanguera (Bartolomeu Bueno Filho) pelo Porto Velho (Porto do Lalau) distante seis quilômetros do local. De acordo com integrantes da Academia Catalana de Letras, a retirada da Cruz do Anhanguera de Catalão foi um acontecimento que marcou a história do município.
Esta história começou na primeira década do século XX quando Vila Boa era capital do estado. A Cruz do Anhanguera ficou por quase 200 anos em Catalão até ser retirada de seu local originário pelo então juiz e poeta Luiz do Couto. Foi o vilaboense que patrocinou a empreitada para levar o monumento para a então capital de Goiás. E esta história tem alguns pontos de curiosidade e um deles é o fato de que durante quase dois séculos era um sinal misterioso, de procedência ignorada.
Originalmente, a Cruz foi instalada ao lado de uma antiga passagem para o Porto Velho, local de travessia do rio Paranaíba. Ali perto tinha uma estrada muito utilizada por fazer a comunicação entre fazendas vizinhas, próxima às margens do ribeirão do Ouvidor. A retirada deste local foi feita por meio de Decreto do Governo Estadual em 1916 e a transferência do monumento para Vila Boa, o que efetivamente aconteceu somente em 1917. Desde então, os catalanos guardam esta “mágoa”, que para Luiz Estevam pode ser reparada agora com ações conjuntas dos dois municípios – Goiás e Catalão – como cidades irmãs, fundadas no ciclo do ouro.
Publicado por: Badiinho Moisés/com informações do Cidade de Goiás