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Hidrogel: Vítimas apontam possível médica

Escrito por: Gabriela Lima (Jornal O popular)

Polícia vai investigar participação de mulher que dizia oriunda do Rio de Janeiro em aplicação de hidrogel.

Hidrogel
Uma das mulheres que fizeram sessão de bioplastia com Raquel Policena, após depoimento no 17º Distrito Policial (Foto reprodução/O popular)

A polícia investiga a participação de uma mulher, supostamente do Rio de Janeiro, que teria apresentado o procedimento de bioplastia para a falsa biomédica Raquel Policena Rosa, de 27 anos. A mulher, de acordo com as vítimas, se apresentava como médica e cobrava até R$ 5 mil pelo procedimento.

Pacientes da suposta médica procuraram ontem o 17º Distrito Policial (DP). Uma delas, uma comerciante de 36 anos, disse que fez a bioplastia no dia 18 de agosto, em um quarto de hotel no Centro de Goiânia. Na ocasião, Raquel teria se apresentado como auxiliar da profissional do Rio, que viajava para a capital goiana mensalmente para realizar o preenchimento com hidrogel.

“Ela disse que no Rio cobrava R$ 9 mil e aqui estava fazendo por R$ 5 mil, que foi o preço que eu paguei”, afirmou. A vítima diz que pagou R$ 3 mil em dinheiro e R$ 2 mil em débito bancário.

Até a morte da auxiliar de leilões Maria José Medrado, de 35, paciente de Raquel que perdeu a vida após se submeter ao procedimento para aumentar os glúteos, a comerciante não havia desconfiado que se tratava de um esquema ilegal. “Na hora eu fiquei satisfeita, mas depois começou a doer e não ficou tão legal. Aí eu falei com ela e ela disse que eu precisava fazer o retoque”, relatou. A vítima conta que só não fez o retoque porque o caso veio à tona na imprensa.

Ela conta que também não estranhou o fato de as injeções com o produto serem aplicadas em um hotel. “Ela falou que seria em uma clínica e, quando estava no caminho, ela me ligou e disse que o procedimento havia passado para o hotel porque o horário na clínica havia expirado”, relata. De acordo com a vítima, mais de 20 mulheres fizeram o procedimento no mesmo dia.

PRODUTO

Agora, duvida até do produto que a dupla diz ter utilizado. “Na hora eu olhei e vi um vidro marrom com um líquido lá dentro. Depois que surgiu essa história (a morte de Maria José), eu fui ver que o hidrogel é uma coisa pequenininha e bem diferente”, pontua. A polícia aguarda o laudo do Instituto de Criminalística para saber o que era realmente o produto aplicado por Raquel, mas suspeita que se trate de silicone industrial, líquido proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas que é comercializado no mercado ilegal no Brasil.

Segundo a comerciante, no dia, o professor de língua estrangeira Fábio Ribeiro não participou das aplicações. Ele se apresentou como marido de Raquel e cuidou do recebimento dos valores. “Ele ficava lá embaixo. Conversava com a gente, passando tranquilidade. Inclusive, é ele quem recebe”, relatou.

A comerciante diz que teme pela vida e sente desconfortos que atribui ao procedimento. O principal deles seria uma dor de cabeça diária. “Me prejudicou porque eu faço artes marciais. Antes eu tinha muita força nas pernas e eu senti que diminuiu”, relata.

A comerciante e uma amiga, que também fez o procedimento estético nos glúteos com Raquel e a suposta médica, estiveram no 17º Distrito Policial (DP), na tarde de ontem, mas não chegaram a prestar depoimento. Surpreendidas com o assédio da imprensa, elas foram embora antes da chegada da titular da delegacia, Myriam Vidal, responsável pelo caso.

Na conversa com a imprensa, a comerciante citou o nome de outra suposta comparsa de Raquel, que segundo ela, era responsável por fazer propaganda do procedimento estético nas redes sociais. A delegada, no entanto, esclareceu que a jovem citada é, na verdade, outra vítima do esquema.

Myriam explica que muitas mulheres faziam propaganda para conseguir indicar novas pacientes para o tratamento e ganhar um retoque de bioplastia. “Raquel cobrava R$ 1,5 mil pelo retoque. Mas quem indicasse cinco pessoas conseguia nova aplicação de graça.”

Até o momento, a polícia identificou 14 vítimas do esquema de bioplastia ilegal, a partir do caso de Maria José. Além da família da vítima, morta no dia 25 de outubro, a delegada ouviu pelo menos sete mulheres que passaram pelo procedimento. O POPULAR apurou que, para evitar exposição, uma foi ouvida no 8º Distrito Policial, no Setor Pedro Ludovico, na tarde de ontem.

Também na tarde de ontem, Myriam Vidal colheu as declarações de uma mulher de 49 anos, que não quer ser identificada. A vítima teria passado por três sessões de preenchimento, uma com a suposta médica do Rio de Janeiro e duas com Raquel. Ela chegou ao local acompanhada da estudante de biomedicina de 35 anos que fotografou a sessão de bioplastia realizada pela falsa biomédica, no dia 11 de outubro, em um quarto de hotel no Setor Oeste.

RIXA

A estudante de biomedicina falou com a imprensa e reforçou a existência da suposta comparsa de Raquel. Ela reafirmou que, durante o atendimento no hotel, disse que estava no local porque havia brigado com a sócia e estava sem clínica. Segundo a estudante, a falsa biomédica afirmou ainda que estava sendo ameaçada pela ex-sócia e que as duas estariam “tendo uma rixa”.

No dia 24 de outubro, a estudante fez um retoque do produto no centro de estética no Parque das Laranjeiras. Na ocasião, afirmou que foi a única paciente em que Fábio não ajudou a aplicar o produto. Ela contou ter visto o rapaz ajudar a falsa biomédica em quatro procedimentos, entre eles o de Maria José.

“Meu horário era o primeiro, às 9 horas. Mas eu cheguei atrasada e quando abri a porta para falar com a Raquel, vi Maria José. Ele (Fábio) também estava lá. Acho que não aplicou em mim porque sou da área da saúde, ou porque fiquei por último”, relatou.

Em depoimento à polícia na segunda-feira, Fábio negou ter aplicado o produto nas vítimas. “Ele disse que jamais poderia fazer isso porque não gosta de agulha”, disse a delegada. Confrontado sobre as mensagens de celular em que Raquel diz que ele “tem a mão mais pesada”, Fábio alegou que fez massagem no bumbum de Maria José após a aplicação do produto.

Badiinho Filho
Badiinho Filho
Blogueiro há 15 anos, proprietário da empresa Badiinho Publicidades, e também repórter de rádio e televisão na emissora Cultura FM 101,1, em Catalão-GO.

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