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Poluentes incomodam a população de Catalão

Escrito por: Pim-José Pedro Júnior/Jornal O Catalão 

Fotos: Jornal O Catalão 

“Será que estamos respirando um ar puro que não trará consequências no futuro?” – José Borges, proprietário rural.

Há muito tempo a população reclama de um odor sentido a maioria das vezes na parte da tarde que denominaram como “cheiro de barata”. Na verdade, trata-se de Fluoreto, produto encontrado em rochas.

Uma Audiência Pública foi realizada, dia 26 de abril, e outras devem ser feitas, onde se espera as presenças de diversos segmentos convidados, como das mineradoras, do Poder Público (vereadores, secretários), do MP, Emater, Conselho Municipal de Saúde, UFG, CESUC, Associação de moradores, e comunidades que sofrem diretamente na zona urbana e cidade. A expectativa é que se ache uma saída para essa situação incômoda e preocupante já que até o momento não se sabe a dimensão do dano à saúde que isso pode acarretar. Há muitos comentários leigos, sem respaldo técnico.

Numa reunião, pré-Audiência Pública, realizada dia 17 de maio, foi deliberado sobre a criação de uma Comissão Setorial Técnica com a função de elencar os problemas e apontar as soluções. Ficou Também no último dia 31 de maio, quarta-feira, houve uma reunião aberta ao público na Câmara Municipal, onde foram tratados assuntos da questão hídrica, da falta de água nos arredores das mineroquímicas.

A Audiência Pública será no dia 22 de junho, às 19h, na Câmara Municipal para tratar sobre Poluição (Cheiro de Barata); reunião com a SECIMA já que esse órgão estadual é quem licencia e autoriza o funcionamento das mineroquímicas. Esses eventos contarão com as presenças de representantes das Mineradoras, Comunidades atingidas, Sociedade Civil, Sindicatos, Pastorais e Comissão do Meio Ambiente da Câmara.

A Câmara de Vereadores, através da Comissão de Meio Ambiente composta pelos legisladores Marciel Mesquita (Tudo Caipira), vereadora Silvinha e Vereador Marcelo Mendonça, está atenta a essa situação e deve participar dessas possíveis ações para resolver a pendência.

Os líderes do movimento são cientes da importância das mineradoras na geração de empregos, para a economia da cidade, sua atuação em projetos sociais, mas também acreditam que há necessidade de melhoria na redução/emissão de poluentes que prejudicam muitas pessoas. “Temos que procurar uma solução para esse problema. Não queremos que as empresas vão embora daqui”, afirma o vereador e ex-secretário de Meio Ambiente, Marcelo Mendonça, sabedor da importância desse segmento na economia e na geração de empregos.

Na verdade, todos envolvidos querem um termo em que ninguém saia prejudicado e que a vida seja o mais importante nesse contexto.

“Vereador Marcelo Mendonça, ex-secretário de Meio Ambiente”

Na última semana de maio deverá acontecer outra Audiência Pública, para ouvir todos os segmentos da sociedade.

Não é mais aceitável que tenhamos de conviver com essa situação.

Esse cheiro de barata nada mais é do que emissão de poluentes e incomoda toda a população em todos os bairros.

Nos últimos 60 dias a situação piorou e tem causado um incômodo generalizado.

Além do Cheiro de Barata há outros problemas que tratamos na Audiência Pública.

Há denúncias de produtores rurais, perto das mineradoras de que parte deles não possuem mais água, nem consegue poços artesianos.

À medida que as mineradoras expandem seus projetos elas vão expulsando as famílias de seus lugares de vida. Eles não querem sair de seus lugares e reclamam do tratamento dispensado a elas. É preciso humanizar o tratamento das mineradoras com essas famílias.

A medida que se escava a mina, faz-se um grande buraco. Toda água que está nos arredores cai nesse buraco que é bombeada e jogada fora, indo para os córregos. Razão de que as nascentes pertos desse local, que foi rebaixado, secam. Antigamente os poços artesianos tinham água em cerca de 30,40 metros hoje já me falaram de poços com até 120 metros de profundidade para achar água.

Temos que procurar uma solução para esse problema. Não queremos que as empresas vão embora daqui.

Quando fui secretário de Meio Ambiente firmamos um convênio com a UFG, Departamento de Química e destinamos R$ 317 mil reais, do Fundo Municipal de Meio Ambiente para instalar uma Estação de Monitoramento da qualidade do ar, moderna. Esses equipamentos são do município e estão em comodato com a UFG.

Foi a partir desses equipamentos que estão na UFG e dos Hivois, que conseguimos constatar que de fato havia responsabilidade das empresas na emissão desses particulados e poluentes na atmosfera. Tanto é que essas empresas foram autuadas em R$ 28 milhões de reais, com provas documentais substanciais. Tudo comprovado.

A Secretaria de Meio Ambiente está autorizada pelo MP a aplicar multa de até R$ 100 mil reais por cada denúncia comprovada. Por isso é importante que a população denuncie à secretaria de meio ambiente o cheiro de barata. Os fiscais irão ao local da denúncia e constatado a multa é aplicada.

Isso não quer dizer que pagando a multa pode continuar poluindo. A multa é uma punição para o que foi feito.

Há tecnologia hoje suficiente para resolver esse problema. Não vale tudo para ganhar dinheiro.

Estou igual um cachorro com faro, sinto o problema em todo local.

As empresas são sérias e importantes para Catalão, mas não podemos mais conviver com isso. Estamos do lado da vida.

“Marcus Vinicius Fernandes de Oliveira, Engenheiro Químico, funcionário efetivo na Secretaria de Meio Ambiente”

Marcus Vinicius Fernandes de Oliveira, Engenheiro Químico, funcionário efetivo na Secretaria de Meio Ambiente.

Os problemas são reais. Já coordenei algumas ações como monitoramento, estudos e pesquisas e chegamos à conclusão, o relatório de 2013 do IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas – que efetuou o monitoramento no Bairro Pontal Norte, apontou o Fluoreto como a causa irritante do mau cheiro que a população batizou com o nome de Cheiro de Barata.

A secretaria de Meio Ambiente exigiu uma série de melhorias nos processos industriais nos terminais minero químicos.

Há também outras medidas tomadas. Além do processo administrativo na secretaria de meio ambiente, caminha uma ação no Judiciário.

A secretaria tem poder para tomar ações, mas precisamos das denúncias da comunidade para que o técnico responsável vá até o local para constatar e tomar providências.

Existem fatores climáticos que fazem com que se sinta mais o mau cheiro em certos horários. Trata-se da inversão térmica, fator climático natural quando a camada de ar para dissolver os poluentes fica menor e assim fica a fumaça mais próxima do solo. Outro fato é que com a temperatura mais reduzida dificulta a dispersão dos poluentes para longas distâncias. Além também da direção e velocidade dos ventos, como acontece de madrugada quando os ventos têm menor velocidade.

O Fluoreto é o causador desse odor. Existe uma gama de produtos fabricados nos terminais industriais que tem potencial maior ou menor de gerar esse odor.

O Fluoreto é liberado na forma de um gás, emitido pelas chaminés ou por fontes fugitivas. A rocha extraída das minas é trazida para o terminal e ali ocorre uma reação química com um ácido, normalmente é o Ácido Sulfúrico. Nesse contato o Flúor se desprende nessa rocha na forma de gás Fluoreto, particulado.

O Flúor é um elemento que está presente naturalmente na natureza. Nas rochas, nas plantas, na água. Até uma certa concentração ele é benéfico para o organismo, considerado como um micronutriente. É usado inclusive nos tratamentos dentários. A diferença entre um remédio e o veneno é a dose. Em grandes quantidades ele pode ser prejudicial no sistema respiratório, nas mucosas e tem um efeito acumulativo no organismo. Pode se alojar no sistema ósseo, causando calcificações nos tendões e deformidades.

Essas empresas não são licenciadas pelo município e sim pelo Estado. Existe um entendimento que a secretaria municipal de meio ambiente não teria a competência de fazer essas exigências.

Infelizmente o poluidor só atua se ele é obrigado, por algum órgão que licencia ele. Considerando que o órgão estadual (SECIMA) não se posicionou sobre esse problema ficamos aí a mercê da Justiça.

Quem está mais perto da fonte emissora tem um efeito mais severo dessa substância no organismo ao longo do tempo. Tenho informações que os trabalhadores têm que fazer exames periódicos. Chegamos a pedir para ver esses exames às mineradoras, mas eles alegaram sobre o sigilo médico e que não poderiam atender.

Tem pessoas que tem sensibilidade que outros não têm. Muitos trabalhadores não conseguem distinguir esse odor. Para eles há um cheiro normal, se habituam. Muitos fumantes não conseguem sentir esse cheiro.

Quem sentir esse cheiro ou outro deve comunicar a secretaria de Meio Ambiente imediatamente para que o técnico vá até o local, para constatação.

A saúde Pública não pode ficar em segundo plano em detrimento de produção industrial, de materialização de lucros.

“José Borges, proprietário rural próximo às mineradoras”

O problema da água é latente e a gente entende que é devido as mineradoras, principalmente das nascentes. Sete nascentes foram soterradas, onde limparam o terreno e colocaram uma montanha de rejeitos compactando a área. Como a nascente iria sobreviver?

Antigamente na seca produzíamos Tomate, Alho. Agora não tem mais jeito pela falta de água.

A consequência maior é a psicológica, a dúvida, onde você tem uma propriedade e não sabe o dia em que eles irão te tirar de lá. Não sabe se pode investir. Ficamos paralisados no tempo.

Será que estamos respirando um ar puro que não trará consequências no futuro?

Nasci e cresci ali. Hoje não tenho coragem de beber água onde sempre fizemos.

É preciso de Transparência. Precisamos que provem que não há problema.

Não somos contra a exploração do minério que é importante, que gera riqueza e empregos, mas a vida é mais importante do que tudo isso aí.

A informação é que esse ano iriam comprar nossas propriedades. Há comentários de que se não aceitar o preço que oferecem eles vão judicializar. Você não quer vender sua propriedade, tem uma história de vida, aí a pessoa chega e coloca o preço que quer e se você não aceitar vai para justiça, que usa critérios de preço regional. Não é uma terra comum. É uma terra de minérios. Isso tem preço.

Conheço muitas pessoas que venderam suas terras e hoje passam dificuldades.

As terras do meu irmão estão nessa situação de judicialização. Colocaram o preço de R$ 90 mil reais o alqueire na justiça. Ele tem quatro alqueires. Pega R$ 300 mil e vem com a família para cidade. Vai viver como? Qual é a preocupação dessas empresas com essas pessoas? Não é só o preço que está envolvido, mas a vida de uma família que não está preparada para enfrentar uma vida na cidade.

“O pessoal do meio ambiente das minerações tem que olhar a acidulação, hoje os filtros e a lavagem de gases visivelmente não estão funcionando. O odor está horrível e os gases estão atacando os olhos na cidade. Já está passando dos limites, tem que ter responsabilidade com os moradores. Estou falando e tenho conhecimento para falar, vamos observar e trabalhar corretamente.” – Engenheiro Elias Safatle, no face dia 12 de maio.

 “Sinto o mau cheiro bem de manhã e na parte da tarde, à noitinha. Me afeta as vistas, queima o olho, sinto dor de cabeça, é horrível. Senti o mau cheiro e achei que o vizinho estava jogando veneno. Ninguém merece esse mau cheiro”. – Fátima, moradora do Bairro Pontal Norte

 

Badiinho Filho
Badiinho Filho
Blogueiro há 15 anos, proprietário da empresa Badiinho Publicidades, e também repórter de rádio e televisão na emissora Cultura FM 101,1, em Catalão-GO.

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