Escrito por: Jornal O Hoje
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Na última semana, uma notícia da agência meteorológica Met Office, do Reino Unido, reforçou os alertas dos cientistas que estudam as mudanças no clima do planeta Terra. De acordo com a agência, os próximos dois anos podem ser os mais quentes já registrados no Mundo. Em Goiás, as previsões não são nada otimistas.
Embora não haja estudos conclusivos que apontem o quanto pode subir a temperatura, especialistas acreditam que existem chances de serem registradas temperaturas máximas mais altas que as do passado em determinadas regiões do Estado. Eles alertam que essa mudança terá reflexos na economia, sobretudo na agricultura, e saúde.
“O que nós estamos observando, dentro deste contexto, é que algumas localidades (do Estado) vão ter valores mais extremos, outras nem tanto”, explica a chefe do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) em Goiás, Elizabete Ferreira.
Em relação à Goiânia, os dados das estações meteorológicas do Inmet têm demonstrado a tendência de elevação nas temperaturas máximas para este mês de setembro, que costuma ser o mais quente do ano. “Segundo nossos estudos, o que nós observamos é que esse ano está registrando temperaturas acima da média”, relata Elizabete.
A professora de climatologia do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (Iesa) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Gislaine Cristina Luiz, considera que é notável que “as temperaturas estão se elevando nos momentos mais críticos do ano”, mas alerta que uma previsão como a da agência do Reino Unido tem que ser tratada com cuidado porque “não quer dizer que você vai ter isso em todo Planeta”, ressalva.
Elevação
“Em média, nos últimos 50 anos, nós tivemos um decréscimo de 7% na umidade, a temperatura mínima aumentou até 2ºC e a máxima se elevou entre 1,8ºC e 2ºC em média, em Goiânia” complementa Gislaine, que durante o estudo que conduziu para defesa de seu doutorado, chegou a registrar em 2010, 42ºC e umidade de 8% em campo – método de coleta diferente das estações meteorológicas.
Gislaine acredita que isto está relacionado à forma “como estamos ocupando o espaço” e defende que essa realidade precisa ser levada em conta no planejamento urbano, ou seja, a impermeabilização do solo, ocupação de áreas de Cerrado e autorização de empreendimentos carece de reflexão a respeito da questão.
O Inmet levantou, com exclusividade para O HOJE, vários dados dos últimos dez anos. Neste período, de acordo com a média das temperaturas máximas – cálculo que considera apenas as temperaturas máximas no intervalo observado – os meses de setembro mais quentes na capital ocorreram em 2007, 2010 e 2011. A média das máximas variou entre 35,1ºC e 31,7ºC.
No entanto, a temperatura mais alta registrada em um dia foi de 39,4ºC. Isso aconteceu em 17 de outubro de 2007 e se repetiu nos dias 15 e 17 de outubro do ano passado.
Saúde e agricultura sentirão mudança
Correlata: A elevação nos termômetros é um desafio a mais para agricultores. É que essas alterações provocam mudanças no desenvolvimento das plantas. “Um clima muito quente, até embaixo dos pivôs, pode resultar em perda de produtividade. Ele prejudica a formação e a sobrevivência das flores”, detalha o consultor técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) em Goiás, Pedro Arantes.
Ele afirma que, diante deste cenário, o produtor precisa escolher plantas que “suportem melhor o calor” e contratar seguro para a plantação. Ele acredita que o conjunto de medidas resulta em um inevitável “aumento no preço dos produtos”.
Doenças
O infectologista, Boaventura Braz, esclarece que a elevação da temperatura não interfere significativamente no nosso organismo porque o corpo humano possui capacidade de controlar a própria temperatura. Entretanto, ele alerta que esse fenômeno já tem contribuído para o aparecimento de doenças em regiões frias. “Determinadas regiões do globo, que não seriam afetadas por epidemias, podem ter doenças que não tiveram no passado. Se você olhar no nosso país, têm regiões dos estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, que dificilmente você tinha problemas com determinadas doenças como dengue e malária, e que já começam a aparecer”, diz.