Escrito por: Patrícia Drummond (Jornal O popular)
A delegada Myriam Vidal, titular do 17º Distrito Policial, deverá ouvir hoje, pela manhã, os primeiros depoimentos a respeito da morte de Maria José Medrado de Souza Brandão, de 39 anos, vítima de embolia pulmonar, após a aplicação da substância hidrogel de poliamida – registrada no mercado como Acqualift -, para aumentar os glúteos, em uma clínica estética localizada no Parque das Laranjeiras. Myriam pediu que fossem intimados, inicialmente, familiares da mulher; a suposta biomédica – identificada como Raquel – responsável pelo procedimento; e a dona do estabelecimento onde foi alugada uma sala para a sessão.
“É apenas o início das oitivas. Além dos depoimentos, aguardamos o laudo do Instituto Médico-Legal (IML), que será fundamental para o andamento das investigações”, informou a delegada ao POPULAR. A princípio, o caso estava na Delegacia de Investigações de Homicídios, onde, na terça-feira, a família de Maria José esteve com o delegado Thiago Torres. Segundo ele, a transferência para o 17º DP se deu por tratar-se de homicídio culposo (sem a intenção de matar), ocorrido na região.
PROFISSÃO
Ontem, o Conselho Regional de Biomedicina da 3ª Região (CRBm-3) encaminhou nota à imprensa esclarecendo que a responsável pela realização do procedimento na vítima, apontada inicialmente como biomédica, não possui qualquer registro na entidade, que responde por Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Minas Gerais e Distrito Federal. “Isso nos leva a crer que ela não seja biomédica”, argumenta o presidente do CRBm-3, Rony Marques de Castilho. De acordo com ele, para realizar qualquer procedimento estético, o profissional biomédico tem, obrigatoriamente, de ter feito um curso de especialização em alguma instituição de ensino reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC).
“O tipo de procedimento a que foi submetida Maria José Brandão (aplicação de hidrogel nos glúteos) não é de competência do biomédico, como mostram as Resoluções 241/2014 e 214/2012”, diz a nota do Conselho Regional de Biomedicina, destacando que a entidade manterá em sigilo o nome da profissional que realizou a aplicação da substância na vítima, “enquanto prosseguirem as investigações”.
A reportagem tentou ouvir o filho de Maria José Medrado de Souza Brandão, Leonardo Medrado Campos, mas uma mulher atendeu à ligação e informou que ele não se encontrava, desligando o telefone em seguida. A mulher identificada apenas por Raquel, que seria a responsável pela aplicação do Acqualifit na vítima, também foi procurada, mas o celular dela encontrava-se desligado até o fechamento desta edição. Segundo o site da empresa que fornece o produto no Brasil, Rejuvene Medical, o intervalo entre uma aplicação e outra da substância, nos glúteos, deve ser de pelo menos 90 dias e o procedimento deve ser realizado por um médico.
Troca de mensagens mostra expectativa e angústia de vítima
“Quero colocar um pouco a mais”, disse Maria José. “Não esqueci; vou por 750 em você, de cada lado, 500 ml amanhã (dia 12) e 250 daqui a 15 dias. Dia 24 (de outubro) tô aqui de novo”, respondeu Raquel. “Tô doida para te conhecer pessoalmente”, completou Maria José. Depois da primeira aplicação, ela – que mostrava-se ansiosa pelo procedimento – chegou a relatar – em mensagens trocadas às 6 horas – insatisfação com o resultado, sendo o tempo tranquilizada pela profissional.
“Se precisar tirar tem como?”, perguntou Maria José. “Tem sim, eu dreno para você”, foi a resposta. “Mas você não vai querer tirar, vai é querer pôr mais”. Nesse ponto, a vítima diz que até venderia o carro, se fosse preciso, para, depois, reclamar novamente: “Não preguei o olho a noite inteira; tô muito assustada, não desceu nada, tá muito feio. Quero tirar, me ajuda, por favor”. Raquel, por sua vez, tenta convencer a cliente de que demora três dias “para o produto assentar” e que ela iria se arrepender se tirasse, justificando os inchaços e formas. Chega a enviar fotos dos bumbuns de outras mulheres, para Maria se entusiasmar.
Em mensagens subsequentes, já no dia 14 de outubro, a vítima afirma ter melhorado e pergunta pela próxima sessão, para “fazer ficar mais redondinho, por inteiro”. No intervalo, diz que o líquido chegou a “vazar”, mas tudo foi resolvido com um curativo. No dia 24, enfim, após novo procedimento, Maria José reclamou que sentia-se mal, “tremendo muito e com uma falta de ar enorme”. Perguntou para Raquel: “Ir para a corrente sanguínea não vai, né?”; e a profissional respondeu que não. Mais tarde, a vítima relata a pressão, 6 por 11. E, depois, alguém informa que ela estava internada no Hospital Jardim América.