CORONAVÍRUS – COVID-19| Após uma segunda-feira (6) de idas e vindas nos bastidores, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), permaneceu no cargo depois de uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
“Nós vamos continuar, porque vamos continuar enfrentando o nosso inimigo, que é o COVID-19”, afirmou Mandetta em entrevista coletiva nesta noite em Brasília, quando repetiu que “médico não abandona paciente”.
Antes do encontro com os outros ministros, Bolsonaro se reuniu a sós com Mandetta e garantiu a permanência do ministro da Saúde no cargo. A CNN apurou que a conversa teve um tom grave, mas não foi um bate-boca. Mandetta falou que estava desconfortável, mas estava no governo para ajudar. Por parte de Bolsonaro, houve uma cobrança para que as restrições de circulação tenham uma solução no curto prazo; e para que a hidroxicloroquina seja mais usada no tratamento contra a COVID-19.
Ainda não há estudos científicos suficientes para comprovar a eficácia da hidroxicloroquina contra o novo coronavírus, mas Bolsonaro tem defendido publicamente o uso do medicamento.
Ao longo do dia, o Planalto chegou a avaliar a substituição de Mandetta pelo deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), ex-ministro da Cidadania, defensor do alívio das quarentenas impostas por governadores; ou pela médica Nise Yamaguchi, defensora do uso da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes de COVID-19. Nise foi convidada por Bolsonaro a integrar o gabinete de crise de combate ao novo coronavírus.
À tarde, fontes do Ministério da Saúde chegaram a dizer que Mandetta iria deixar o cargo e seria substituído por Terra — que inclusive já estaria ligando para governadores para tratar de novas determinações sobre quarentenas.
No entanto, o presidente recebeu alertas de que a eventual saída de Mandetta seria mal recebida no Congresso Nacional e no STF (Supremo Tribunal Federal). No Executivo, três ministros da ala militar – os generais Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Braga Netto (Casa Civil) e Fernando Azevedo (Defesa) — encabeçaram a ofensiva para dissuadir Bolsonaro da demissão.
No começo da noite, ministros ouvidos pela CNN e que deram informações sob condição de anonimato já asseguravam a permanência de Mandetta. Um deles disse que a reunião foi “melhor do que o esperado”.
CONFLITO
A situação de Mandetta ficou delicada após semanas de desentendimentos com o presidente sobre a linha a ser adotada no combate ao novo coronavírus. O ministro sempre defendeu a necessidade do isolamento social como forma de contenção do contágio, o que também é defendido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O presidente, por outro lado, critica a medida, afirmando que ela prejudica a economia e que só integrantes dos grupos de risco para a COVID-19 devem ficar isolados – o chamado “isolamento vertical”, que tem respaldo escasso na comunidade científica.
Em aparições quase diárias nas entrevistas coletivas do Ministério da Saúde, Mandetta nunca criticou diretamente Bolsonaro, mas manteve a defesa do isolamento social e recomendava à população que seguissem as orientações dos governadores – quase todos deles partidários de quarentenas e interrupção das atividades não essenciais.
Como pano de fundo do embate, recentes pesquisas do Datafolha mostraram apoio da maioria da população ao isolamento social e uma aprovação a Mandetta maior que o dobro da do presidente.
Toda a crise ocorre no momento em que o Brasil tem 12.056 casos confirmados de COVID-19 e 553 mortes pela doença, segundo números de hoje, e quando o país se encaminha para a fase mais crítica da pandemia – no dia 17 de março, o próprio Mandetta disse que o Brasil viveria entre “60 e 90 dias de muito estresse” por causa do avanço da doença.
Escrito por: Redação/CNN Brasil