Aplicativo anuncia pacotão de ferramentas, incluindo as Comunidades, que lembram as listas de transmissão do Telegram; recursos vão estrear após as eleições
O WhatsApp anunciou nesta quinta-feira, 14, o lançamento de novas ferramentas e funcionalidades. A principal delas é a criação da aba Comunidades, que permitirá que uma mensagem chegue a milhares de usuários, a exemplo do que já acontece com as listas de transmissão do Telegram. A informação é do site Terra.
A função será implementada gradativamente em todo o mundo e deverá estar disponível já nas próximas semanas para alguns usuários – mas não para brasileiros. O WhatsApp tem um acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para não implementar mudanças significativas nas funcionalidades do aplicativo no País até o fim das eleições presidenciais deste ano – o mensageiro foi considerado um dos principais vetores de desinformação no pleito de 2018 e vinha tomando medidas para tentar reduzir esse impacto.
Ventiladas ao menos desde o início de 2022, as Comunidades do WhatsApp, segundo a empresa, são uma forma de melhorar a organização dos grupos e facilitar o envio de avisos ou comunicados em comum. O recurso permitirá aos usuários reunir vários grupos dentro de um mesmo espaço e encaminhar as mesmas mensagens. Potencialmente, isso amplia o alcance de mensagens encaminhadas para milhares de pessoas – atualmente, cada grupo no WhatsApp comporta 256 pessoas.
Inicialmente, as Comunidades poderão reunir até 10 grupos com até 256 pessoas, o que amplia o potencial de audiência de uma mensagem para 2.560 pessoas. A empresa, porém, estuda aumentar o limite dos grupos para 512 participantes.
“As Comunidades permitirão que as pessoas reúnam grupos relacionados sob uma mesma estrutura que funcione para elas. Dessa forma, os participantes poderão receber avisos enviados para toda a Comunidade e organizar grupos menores para discutir os assuntos que são de seu interesse com facilidade”, diz a empresa em nota. A ideia do aplicativo é servir melhor grupos de escola, condomínios e empresas.
Ciente de que o recurso pode ser encarado como um afrouxamento nas regras (atualmente, uma mensagem só pode ser encaminhada para cinco pessoas), o WhatsApp reforçou que o aplicativo e suas funcionalidades são pensados para atender pessoas que já se conhecem – o WhatsApp vem insistindo no discurso de que o serviço não deve ser usado para fins políticos.
Em relação ao encaminhamento de mensagens, o WhatsApp afirma que, nas Comunidades, mensagens só poderão ser encaminhadas para um grupo de cada vez, em vez de cinco, limite atual de encaminhamento. De acordo com a empresa, é uma forma de “reduzir significativamente a disseminação de desinformação que possa ser prejudicial nos grupos da Comunidade”.
Além disso, não será possível procurar ou descobrir novas Comunidades (no Telegram as listas de transmissão são abertas).
As Comunidades também contarão com ferramentas avançadas para administradores, como o envio de avisos a todos os participantes, controle de quais grupos podem ser adicionados à Comunidade, além de ferramenta de exclusão de participantes ou de mensagens inapropriadas.
Repercussão ruim
Entre a maior parte dos especialistas em redes sociais, o novo recurso não foi bem recebido. O maior temor é de que as Comunidades permitam uma circulação maior de desinformação. “As Comunidades aumentam o potencial de desinformação. O tamanho dos grupos não é o problema. O problema são os conteúdos. Essa é uma ação que permite aumentar o alcance de conteúdos bons e ruins “, diz Raquel Recuero, professora da Universidade Federal de Pelotas.
David Nemer, professor da Universidade da Virgínia (EUA), vai na mesma linha. “Qualquer medida para aumentar a circulação de informação deve ser adotada com medidas para conter a desinformação”, diz ele. “O WhatsApp mostra novamente que não preza pelo combate a desinformação. As medidas adotadas por ele em 2018 foram apenas depois das eleições brasileiras”, argumenta.
Além disso, a figura dos administradores deve ganhar relevância – e apresentar até desafios jurídicos. “Salvo casos isolados, o Judiciário brasileiro não vem responsabilizando o administrador de grupos de WhatsApp pelos conteúdos que são publicados, mas com a ampliação dos poderes do administrador e a supervisão de grupos maiores pode ser que esse assunto ganhe um novo fôlego,” afirma Carlos Affonso Souza, professor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-RIO).
Pacotão de novidades
Além da aba Comunidades, fazem parte do pacotão de novidades anunciadas a possibilidade de fazer chamadas de voz com até 32 pessoas; o aumento para 2GB dos arquivos que podem ser enviados e a função de reagir com emojis à mensagens enviadas em grupos. Segundo o WhatsApp, a expansão para o limite de 32 pessoas em uma chamada de voz deve ser a primeira novidade a ficar disponível em todo o mundo.
Sobre o recurso de reagir com emojis às mensagens enviadas nos grupos, o WhatsApp diz que a ferramenta servirá para que os participantes do grupo possam expressar opiniões simples com mais rapidez, sem que seja necessário escrever.
Ainda em relação aos grupos, o aplicativo agora permitirá a participação simultânea de até 32 pessoas em uma mesma chamada de voz. De acordo com a empresa, a chamada de voz coletiva também ganhará um novo no layout.
Por fim, outra novidade, especulada já há algum tempo, é o aumento do tamanho dos arquivos suportados para envio. Com as novas mudanças, arquivos de até 2 GB poderão ser enviados pelo WhatsApp (o limite anterior era de 16 MB para arquivos no celular e 64 MB no WhatsApp Web). Com isso, o WhatsApp vira uma espécie de rival de serviços como o WeTransfer.
No comunidado oficial de lançamento das novas ferramentas, o WhatsApp não mencionou qualquer ação específica para sanar os problemas de instabilidade com o WhatsApp Web, que têm sido frequentemente relatados por usuários nas últimas semanas.